Editorial - Aliança Brasil BR
Ao saber, pela internet, dos protestos em Brasília, liguei a TV em um canal aleatório, para tentar acessar mais informações. Eis que uma comentarista da Globo News me solta, em meio a uma descrição histérica que ela fazia do episódio, uma sentença criminal extraída da própria cabeça:
"Esses terroristas, que estão agindo agora em Brasília..." - Pois é! Terroristas! Foi assim que essa pobre criatura doutrinada classificou aquelas pessoas.
Assim que ela falou dos tais "terroristas", lembrei imediatamente de todas as famílias que conheço que já foram diversas vezes à capital do país para participar das manifestações.
Lembrei das crianças que estavam sendo mostradas na própria emissora da comentarista histérica, marchando em direção à Praça dos Três Poderes de mãos dadas com os pais.
Me recordei ainda do comentário de uma amiga, que estava preocupada com a tia, uma professora aposentada, completamente inofensiva e com décadas de serviços prestados à educação, que apareceu numa imagem participando do grupo que ocupou o Congresso Nacional.
Na minha cabeça a conta definitivamente não fechava. Impossível que aquelas pessoas: vovôs, vovós, crianças e titias, tivessem se tornado terroristas de uma hora pra outra.
"Ah! Mas se eram tão inofensivos, como explicar as vidraças e os móveis quebrados durante a invasão dos prédios públicos?" - questionaram alguns, com justa desconfiança. "Tinha ou não tinha infiltrado de esquerda?" - perguntaram outros.
Não quero, absolutamente, fugir do assunto, mas antes de responder a essas perguntas, na minha opinião, temos uma fila enorme de outras questões que ainda não foram respondidas, e que talvez contenham a explicação para o que aconteceu.
Assim que o sensacionalismo da maioria das coberturas jornalísticas começou a lançar uma sombra de encrenca sobre a manifestação, os representantes políticos começaram a se manifestar.
A maioria deles, do seu novo jeito preferido: escondidos atrás de um computador, longe da confusão, postando uma frasezinha qualquer de efeito no twitter, como fazem os adolescentes e os influenciadores digitais quando querem causar boa impressão.
O General (que foi vice do ex-presidente) tratou de declarar que era contra as invasões. A maioria dos políticos de direita, afirmava que era a favor das manifestações pacíficas, mas não das invasões aos prédios públicos.
Até o ex-presidente, de quem se esperava muito na reta final, lá do seu exílio na Flórida, se posicionou contra as ações do povo.
Mesmo os raros jornalistas que costumavam insuflar o povo a uma reação mais enérgica, trataram de correr pra cima do muro.
Os apoiadores do atual (e questionável) governo, como já era de se esperar, se manifestaram logo em favor de uma caça às bruxas: "Punir! Punir! Punir!" bradava a maioria. "Sem direito a defesa ou anistia!" - gritavam outros, fazendo coro com a imprensa doente.
As perguntas aqui são:
Onde estavam todos esses paladinos da justiça e da moderação, da esquerda e da direita, quando um homem condenado foi inocentado em uma manobra jurídica, para concorrer ao cargo máximo do executivo nacional?
Onde estavam todos eles, que agora chamam os manifestantes de terroristas desordeiros, quando a desordem institucional do nosso país, promoveu prisões e cassações sumárias de parlamentares respaldados por milhares de votos?
Onde estavam os que agora se manifestam sem medo, quando jornalistas e parlamentares tiveram os seus canais de comunicação cortados por medidas ditatoriais, só comparáveis às que são tomadas nas piores ditaduras do mundo?
Por que não se posicionaram com tanto ímpeto, quando foram apresentados indícios fortíssimos de fraude no processo eleitoral, não só na votação, mas também na campanha, e quando a simples investigação dos fatos foi impedida com rigor, enquanto as vítimas da fraude foram tratadas como culpados?
Onde estavam escondidos quando o povo passou dois meses debaixo de sol e chuva, pedindo somente o retorno da lei e da ordem que foram violentadas em nosso país?
Talvez, se essa indignação seletiva dos direitistas moderados e dos jornalistas limpinhos em relação a atos de violência, tivesse aparecido antes, direcionada a todos esses abusos, não tivéssemos chegado ao ponto que chegamos. Ou será que tudo isso que descrevemos também não são atos de violência?
Essas pessoas, que foram abandonadas à prórpria sorte pela mídia corrupta, pelas Forças Armadas e agora até pelos aliados, tentaram durante um longo tempo agir de forma ordeira e inofensiva, para trazer a normalidade e a justiça de volta.
O método de se vestir de amarelo e verde e ir às ruas pacificamente não surtiu efeito; só gerou mais perseguição. Talvez porque a lógica e o método dos usurpadores dos nossos direitos, não incluam a sensibilidade em relação às injustiças praticadas contra terceiros. Se eles nem sabem o limite entre justiça e injustiça, como podem saber que estão sendo injustos?
Violência gera violência; este é um chavão bem oportuno. O povo partiu pra ignorância ao invadir os prédios públicos? Ok. Mas quem começou tudo isso lá atrás?
Há também uma frase do psicólogo canadense Jordan Peterson, que serve muito bem de ilustração para esse momento: " Um homem inofensivo não é necessariamente um homem bom. Um homem bom é um homem muito perigoso, que tem isso sob controle voluntário".
Quando o injustiçado não recebe apoio daqueles que teriam a obrigação de apoiá-lo, é natural que entre no modo desespero e tome atitudes extremas. Ao contrário do que imaginam certas figuras, elas não estão lidando com manés.
Voltando ao rótulo de terrorista que estão tentando gravar nessa parcela do povo que não se conforma em viver em um país com instituições corrompidas, você realmente acredita na narrativa de que existem mais de 60 milhões de terroristas hoje no Brasil? É este, no mínimo, o número dos que não aceitam ser governados por um ex-presidiário, descondenado em uma manobra jurídica.
Não lhe parece bem mais provável, que uma dúzia e meia de vagabundos oportunistas estejam ocupando funções indevidas e provocando toda essa confusão?
Reflita.