Gazeta do Povo
Das muitas bizarrices com que o atual governo já presenteou o país, poucas são tão surreais quanto os encontros e audiências da mulher de um dos principais traficantes da Região Norte do país – ela mesma já condenada criminalmente em duas instâncias – com secretários do Ministério da Justiça, sem que seu nome aparecesse nas agendas oficiais.
A reação de ministros e parlamentares que se uniram na crítica virulenta a quem apontasse, como qualquer pessoa de bom senso faria, que o episódio está muito mal contado apenas acrescentou uma segunda camada de absurdo a toda uma história que precisa urgentemente de investigação mais detalhada.
O que se sabe, até o momento, é que Luciane Barbosa Farias é casada com Clemilson dos Santos Farias, o “Tio Patinhas”, chefe do Comando Vermelho no Amazonas – ela nega ser integrante da facção, embora também seja apontada como tal.
Ambos já foram condenados pela Justiça, a 10 e 31 anos respectivamente; ele está preso em Tefé (AM), por ter contra si ordem de prisão preventiva, mas ela recorre em liberdade da condenação por lavagem de dinheiro, associação para o tráfico e organização criminosa.
Como já foi condenada em segunda instância, Luciane também estaria provavelmente atrás das grades, se não fosse a decisão de 2019 do Supremo Tribunal Federal que acabou com o início do cumprimento da pena após condenação por colegiado; livre, ela aproveita a oportunidade para circular com desenvoltura em Brasília, colecionando fotos e declarações de apoio de parlamentares.
Em 19 de março, se encontrou com Elias Vaz, secretário nacional de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça; em 2 de maio, esteve com Rafael Velasco Brandani, titular da Secretaria Nacional de Políticas Penais.