Rose Amantéa/Gazeta do Povo
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) adiou para março o anúncio do fracasso da meta de déficit zero em 2024, mas está distante de demonstrar disposição para ajustar as contas ou aprender com os erros do passado.
A resistência pode ser observada não apenas pela falta de austeridade fiscal e a intenção declarada de Lula de não contingenciar gastos em ano de eleições municipais, mas também pela insistência em políticas populistas e insustentáveis.
Na fila de tais iniciativas estão desde a retomada do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), políticas protecionistas aos estaleiros nacionais e do fim do desinvestimento em refinarias, além de medidas pontuais como o reajuste de salário mínimo acima da inflação.
"A profunda crise econômica que vivemos traduz o esgotamento de um modelo errado que combinou uma dinâmica de deterioração das contas do governo com projetos de investimentos públicos mal formulados", diz o economista Samuel Pessôa, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas.
Para ele, a decisão do presidente Lula de começar o governo com o "pé no acelerador dos gastos", com a PEC da Transição, traduziu a conhecida concepção do gasto público como motor do crescimento.
"É uma visão ideológica, natural num governo de esquerda. Eles acham que a Coreia do Sul é rica porque tem um banco de investimento centralizando tudo e promovendo a riqueza. Esquecem os níveis de educação, de produtividade e de poupança interna de uma população inteira", afirma Pessôa.