Em mais um exemplo de tensionamento no conflito entre Venezuela e Guiana pelo território do Essequibo, rico em petróleo, os Estados Unidos anunciaram a realização de testes militares com a Guiana, manobra considerada pelo governo de Caracas como uma "provocação infeliz"
"Em colaboração com a Força de Defesa da Guiana (GDF), o Comando Sul dos EUA conduziu operações de voo com a Guiana em 7 de dezembro. Esse exercício baseia-se no envolvimento e nas operações de rotina para melhorar a parceria de segurança entre os Estados Unidos e a Guiana, e reforçar a cooperação regional", afirma uma nota divulgada pela Embaixada norte-americana em Georgetown, capital da Guiana.
O texto acrescenta que os EUA manterão o compromisso como parceiros de segurança confiável da Guiana e a promoverem a cooperação regional.
Professor de história e ciência política da Universidade Simon Bolívar, em Caracas, Hernán Castillo descarta um conflito militar entre Guiana e Venezuela:
"A presença militar dos norte-americanos no Mar do Caribe é de tal magnitude que atua como fator dissuasivo, ante a crise vivida pela Venezuela e a fragilidade da Guiana", observa.
Por sua vez, Sadio Garavini di Turno, ex-embaixador da Venezuela em Georgetown (Guiana) e em Paramaribo (Suriname), acredita que a crise com o país vizinhos seja uma manobra política interna do governo da Venezuela.
"O referendo de domingo passado (sobre a anexação do Essequibo) serviu para desviar a atenção do triunfo, nas primárias, da candidata María Corina Machado. Os assessores dela foram acusados de serem traidores da pátria, porque teriam recebido salários da Exxon Mobil. É uma loucura. As acusações também atingem líderes opositores exilados no exterior, apenas para fazer crer que o alvo não é a candidata apenas", declarou.
"Caracas quer uma desculpa para tratar de adiar ou complicar as eleições de alguma maneira."
Na quarta-feira (6), o procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, emitiu uma ordem de captura para 13 líderes opositores, incluindo Juan Guaidó, Leopoldo López, Julio Borges, Yon Goicochea e quatro assessores de María Corina.
O ex-embaixador vê com normalidade o envolvimento dos EUA nos exercícios militares conjuntos.
"A Guiana é um país muito mais fraco, sob o ponto de vista militar. É claro, ficou aborrecida com a crise e pediu ajuda da comunidade internacional, a começar pelos Estados Unidos, que possuem um acordo de cooperação com Georgetown", comentou Garavini.
O secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, David Cameron, sublinhou que a Venezuela não tem motivos para justificar uma ação unilateral na disputa pelo Essequibo.
"Não vejo absolutamente nenhum argumento para uma ação unilateral por parte da Venezuela. Tem que parar", comentou, durante entrevista coletiva com o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken.
Do ponto de vista internacional, Maduro passa por ridículo. Ele nomeou um general para administrar o território do Essequibo em Tumeremo, um povoado da Venezuela distante entre 70km e 80km da fronteira.
Depois, ele anuncia uma secção Essequibo da petroleira PDVSA para a concessão de licenças de exploração em terra e mar do Essequibo. Como? A quem Maduro dará essas licenças?
Pela primeira vez desde a realização do referendo na Venezuela, no último domingo (3), o ditador Nicolás Maduro se manifestou adotando um tom mais brando em relação à escalada do conflito sobre Essequibo, área rica em petróleo e outros recursos naturais, alvo de disputas com a Guiana.
Neste sábado (9), o líder chavista afirmou em seu perfil na rede social X (antigo Twitter) que os dois países precisam "sentar e conversar" sobre a soberania do território.
"A Guiana e a ExxonMobil - empresa americana que explora petróleo na região - terão que sentar e conversar conosco, o Governo da República Bolivariana da Venezuela. De coração e alma, queremos Paz e compreensão (...)", disse o ditador.
O tom mais brando do ditador venezuelano surge após ele ter divulgado na quarta-feira (6) um "novo mapa" do país com a incorporação da área disputada com a Guiana.
O anúncio foi feito durante um pronunciamento público diante de governadores, prefeitos, ministros, diplomatas e outras autoridades.