Por Rodrigo Oliveira
O que sempre me interessou na literatura foram seus efeitos terapêuticos. O entendimento das doenças até então desconhecidas cura.
Neste sentido, uma das mais belas finalidades da literatura é trazer à tona dilemas que dilaceram a consciência humana e, a partir disso, proporcionar uma cura.
Como disse James Hillman, ficções curam. Quando tenho acesso ao sofrimento íntimo de um personagem, faz-se presente não somente o seu sofrimento, mas de todos que direta ou indiretamente participam dele.
Carpeaux disse que a literatura é a síntese da natureza humana. Não seria exagerado afirmar que pelas ficções tenho acesso à síntese das doenças que atormentam o homem, sejam elas existenciais, psicológicas, psicossomáticas, psicanalíticas, físicas ou metafísicas.
A partir do momento em que a minha imaginação assimila essas ficções verossímeis, ela se prepara, imediatamente, para experienciá-las.
O sofrimento do personagem também pode mascarar o sofrimento do autor que o criou e que, por consequência, poderá ser o nosso sofrimento. Sendo assim, o sofrimento adquire um sentido mais amplo. Universal.
Somente a partir desse “universalismo” conseguirei deslocar a minha consciência para a realidade mais apropriada. Saio de um subjetivismo turvo, que tende a entender o sofrimento como sendo “meu sofrimento”, para um objetivismo que me permitirá compreendê-lo como um sofrimento que acomete todos os homens.
É a partir desse universalismo que consigo compreender melhor o que sofro e encontrar a cura. Faz-se ciência somente do universal, afirmava Aristóteles.