Comparações entre o Brasil atual e a distopia 1984, de George Orwell, já se tornaram lugar-comum.
A vigilância sobre as conversas privadas de cidadãos; as tentativas de controle da linguagem com finalidades ideológicas; as prisões e punições arbitrárias em processos sigilosos e que ignoram o devido processo legal; a vedação total à discussão de certos temas, elevados à categoria de “crimideia” – tudo isso já existe em maior ou menor grau em nosso país.
No entanto, é preciso insistir na comparação, pois o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, segue empenhado em ser o Winston Smith da Operação Lava Jato.
O trabalho de Smith, o protagonista de 1984, no Ministério da Verdade é reescrever documentos históricos e publicações jornalísticas para que reflitam o pensamento do partido totalitário que governa a Oceania.
Quando um antigo país aliado se tornava inimigo, por exemplo, Smith precisava encontrar e eliminar todos os registros que mencionassem a aliança, para que os registros acessíveis à população dessem a impressão de que aquele país sempre havia sido hostil à Oceania, e jamais tinha sido aliado.
É exatamente o que Toffoli vem fazendo com a Lava Jato: cada decisão monocrática sua é uma tentativa de apagar o passado e substituí-lo por um revisionismo forçado que, coincidentemente ou não, segue a linha do partido hoje no poder.
Fonte: Gazeta do Povo