No clássico 1984, George Orwell descreve uma prática do governo distópico hiperautoritário para restringir a linguagem e o pensamento da população. Termos considerados “perigosos” pelo governo eram simplesmente removidos, numa tentativa de limitar a capacidade de pensamento – e com isso criar um povo muito mais propenso a aceitar o jugo do governo sem questionamentos inconvenientes.
Embora fictício, o enredo de 1984, infelizmente, parece estar cada vez mais perto de ser colocado em prática. Além dos governos e tribunais superiores que insistem em tentar limitar a livre expressão de ideias, militantes de diversos setores optam por levar suas bandeiras ideológicas para a esfera da linguagem e impor termos que tornem certas práticas mais aceitáveis ou condenáveis, dependendo do objetivo que se queira alcançar.
Exemplo recente deste esforço é uma cartilha para orientar a produção de matérias jornalísticas sobre o aborto. Partindo da tese de que o aborto não pode ser considerado como um “estigma”, grupos feministas lançaram um guia de “Boas práticas de cobertura feminista sobre aborto no Brasil”.
O material tenta convencer os jornalistas a abordar a eliminação de um ser humano não nascido como se não fosse um crime. Para isso, o material orienta que os jornalistas, entre outras coisas, evitem usar imagens e vídeos que mostrem o feto ou remetam ao luto – como se o bebê em formação não fosse um ser humano e sua morte não gerasse a dor da perda.
Em outras palavras, o objetivo é o de desumanizar o nascituro para que sua eliminação seja melhor aceita pela sociedade, e “apagar as evidências” do que o aborto realmente é.
Fonte: Gazeta do Povo