Esta semana, vários jornalistas que ainda têm compromisso com a verdade das informações que divulgam e com o papel cidadão de esclarecer a população sobre os abusos que estão sendo cometidos nos bastidores do poder, e que atingem frontalmente os nossos direitos e as nossas liberdades, se manifestram sobre a morte do preso político que morreu em Brasília, por abuso e negligência do poder judiciário.
A jornalista brasileira radicada na Itália, Karina Michelin, sempre na linha de frente na campanha contra a ditadura que pretendem instaurar no Brasil, publicou um texto apelando para que aqueles que ainda não preceberam o avanço da tirania, possam finalmente despertar para o que está acontecendo:
Cleriston Pereira Cunha, conhecido como Clezão, preso político, que morreu no Complexo Penitenciário da Papuda por negligência médica e do Estado, está sendo velado em Brasilia.
Segundo informações, o corpo será levado para sua cidade natal, Feira da Mata - BA, onde será enterrado.
E ainda há quem diga que no Brasil não existe tortura e pena de morte.
O que aconteceu na Papuda é muito grave! Um homem preso sem ter cometido crime, sem o devido processo legal, inocente, com sua pena revogada há mais de 2 meses - morreu na cadeia ( onde não deveria estar) por negligência médica e pior: negligência do Estado! Sem nenhuma dignidade. Esse epilogo é no mínimo, repugnante!
Uma morte anunciada, um corpo que pedia socorro, uma alma sofrida e dilacerada pelas injustiças da vida terrena - Clezão desligou-se deste plano desprovido de compaixão e justiça. A morte de Cleriston Pereira Cunha, simboliza a decadência moral e espiritual que estamos submersos.
Eu só espero e desejo que todos os brasileiros acordem. Muitos ainda estão em um sono profundo, outros alienados, outros tantos em uma bolha acreditando que serão inatingíveis, intocáveis e poupados das botas do regime, na jugular.
O despertar se faz necessário, a nossa sociedade está condenada ao fracasso total - sem justiça e moralidade. Estamos em uma decadência espiritual, vivendo um declínio moral e aceitando uma profunda falência intelectual.
O jornalista Augusto Nunes, da Revista Oeste, também se juntou às vozes lúcidas e corajosas que se manifestaram sobre o caso:
Só posso acrescentar que essa -a morte de Cleriston Pereira na Papuda- foi uma tragédia mais do que anunciada. Era fatal que acontecesse. E como afirma Nunes, é preciso colocar um basta imediato nessa situação de excessão vergonhosa em que vivemos. Se o cidadão comum, inclusive jornalista honesto vive -e tem que viver-atemorizado e se cala pela ameaça de um estado policialesco e violento, cabe a seus representantes, eleitos por eles, cheios de imunidadese privilégios, agir fortemente em nome da sociedade. Ou acontecerá; na segunda morte serão igualmente responsabilizados por absoluta omissão de seu dever. Na terceira, virarão merda numa latrina que já ameaça transbordar. E vai. O caso de Wladimir Herzog, morto numa cela do regime militar é fichinha perto do que ocorre hoje, e os responsáveis caíram imediatamente. Essa putada de políticos, ao invés de sair por aí viajando e lacrando, deveria se preocupar com o que aflige todos os brasileiros. E não o faz, por covardia. Não cumpre seu dever e obrigação por covardia, repito. E por conveniência própria, com raríssimas exceções, que ao final de nada servem, largados e abandonados como foi Daniel Silveira. E Roberto Jefferson. E Eustáquio. E Wellington Quem tem que se responsabilizar por essa situação vergonhosa, já tardiamente, é o senado e a câmara dos deputados, como uma força únca em defesa do país, já que não há outra força para isso. Sabem a que me refiro. Não acontecendo, enfrentarão uma convulsão social, e chegará a vez deles morrerem, presos e sem explicação, na cela de um ditador qualquer. Que a sociedade cobre.