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A farsa da política - O povo não é bobo
Cidadania
Publicado em 27/11/2023

Por Augusto Quinto*

Na minha longa jornada como jornalista, percorrendo os mais longínquos recantos desse nosso imenso Brasil, tive a oportunidade, nem sempre agradável, de assitir a diversas disputas políticas nas cidades do interior.

Só quem já vivenciou esse universo por demais estreito da políticagem municipal, é que sabe o quão pitoresca pode ser uma eleição para prefeito em algumas cidades brasileiras. 

Pra começar, a máquina pública é vista pela maioria dos candidatos, não como um instrumento de transformação positiva da qualidade de vida do município, mas sim como o maior cabide de empregos da cidade, que, quem detiver o controle, terá automaticamente o maior poder local.

Na lista dos beneficiários desses prefeitos mambembes, estão desde o cunhado desempregado, até aquela sogra professora que está perto de se aposentar, que assume de paraquedas a Secretaria da Educação.

Tem também aquela sobrinha que vira chefe do serviço social. Às vezes entra até a amante, que discretamente recebe um cargo em uma sala onde pouca gente circula, no último andar do prédio da prefeitura, e sempre dá hora extra depois que todos vão embora e só fica o prefeito. 

É por isso que normalmente as mudanças no poder municipal costumam ser muito traumáticas: o novo gestor costuma passar o rodo nesses cargos todos, para abrir espaço para a gente dele. 

Parece engraçado, mas é muito triste que o futuro dos nossos municípios esteja entregue a uma maioria de oportunistas, que só cuidam dos próprios interesses, e que têm como eleitores aqueles que se beneficiarão, direta ou indiretamente, mas sempre indevidamente, da coisa pública. 

É por isso que vou revelar aqui, algumas caricaturas dos personagens mais comuns que identifiquei nessas disputas infelizes, para que o nosso leitor/eleitor possa identificá-los no meio do processo, e, se for consciente de verdade, evitar votar nessas criaturas. 

Deixemos de delongas introdutórias e vamos direto aos personagens da nossa fauna política:

O PARENTE

O primeiro deles, e um dos mais comuns, é o parente do ex-prefeito. Irmão, filho ou esposa do gestor anterior, ele acha que pode convencer os eleitores, de que somente porque tem o mesmo sobrenome, tem também as mesmas competências do antigo administrador.

Normalmente é aquela pessoa que viveu a vida inteira na sombra do parente prefeito, morrendo de mágoa e de inveja porque a vida não lhe deu as mesmas oportunidades de destaque na política.

Suas pormessas são quase sempre as mesmas: "Se eleito eu vou continuar e melhorar as obras de  nosso querido Fulano (no caso aqui o parente dele que ocupou a prefeitura antes). "Tá no sangue!" - afirmam categoricamente. 

Portanto, fiquem de olho quando perceberem que um parente do ex está se lançando: ambição simples não gera competência. 

O MILITANTE

Esse é quase sempre de esquerda e se coloca desde sempre do lado das minorias oprimidas. Você certamente vai encontrá-lo na primeira fila nos eventos do Dia da Consciência Negra e na Parada LGBT.

Já saiu da adolescência faz tempo, mas continua sendo fã de Che Guevara e da fictícia causa revlucionária que alimentam, que a única coisa que consegue, é jogar um segmento da sociedade contra o outro e criar mais confusão.

Normalmente apoiam regimes totalitários, como o de Cuba e o da Venezuela, e mais recentemente demonstram, ainda que timidamente, uma certa simpatia pelos terroristas do Hamas.

Vivem do desacordo que alimentam entre os menos e os mais favorecidos. Sabem que se houver paz e prosperidade na sociedade eles estarão ferrados, pois o discurso de intriga que fazem se tornará sem sentido e desnecessário.

A BOAZINHA

Essa normalmente é uma candidata do sexo feminino. Reconhecida pelos mais pobres da cidade pelo serviço social que prestou ao longo da vida, muitas vezes de forma sincera e abnegada, ela tenta transformar essas ações em capital político para fazer carreira.

Normalmente começa como vereadora, mas se vê a própria popularidade crescer, logo a ambição aumenta e se torna disposta a vender a alma ao diabo para chegar à prefeitura.

Nesse caso o eleitor precisa ficar atento para não se deixar levar pelo aspecto emocional. Ser boazinha não é garantia de que tem capacidade administrativa.

Muitas vezes, aliás, acontece justamente o contrário: uma mão aberta pode produzir uma administração perdulária e desregrada. 

O RADIALISTA SABIDÃO

Sabe aquele sujeito que você liga o rádio de manhã e ele está falando de economia, meio dia ele ataca de comentarista político e à tarde ainda acha um tempinho para comentar sobre futebol.

Aquele mesmo que nos finais de semana ainda acha um horário para apresentar especiais de música.

Vocês não acham muito estranho que alguém queira estar falando para todos os públicos? Pois o fato é que, você ache ou não ache, isso é muito esquisito.

Em mais de 99% dos casos, de uma hora para outra, esse sujeito revela a verdadeira face, e se lança como pré-candidato a vereador ou a prefeito.

"Sou famoso! Niguém pode me segurar!" - pensa em seus delírios o ambicioso. 

Falar é uma coisa, fazer é outra completamente diferente e bem mais difícil. Não faltam por aí os engenheiros de obras prontas. 

O COLONIZADOR

Esse tipo é bem mais comum nos municípios menos desenvolvidos do Norte e do Nordeste.

O sujeito vem de um grande centro do país, como Rio de Janeiro ou São Paulo, toca a dar opinião sobre todos os assuntos com ares de autoridade, como se o fato de vir de uma cidade grande fizesse dele um ser iluminado, e todos naquela cidade menor fossem tapados de nascença.

Esses geralmente são logo rejeitados naquelas cidades um pouco maiores, que sabem a diferença entre verdades e conversa fiada de oportunista, que quer fazer carreira às custas da ignorância do povo. 

O DEPUTADO METEORO

Desse tipo o Brasil inteiro está cheio.

O sujeito é eleito deputado, e, depois de alguns mandatos, em um surto repentino de pertencimento, resolve voltar para terra natal e abraçar a causa da prefeitura.

Anuncia que vai voltar como salvador e que vai colocar tudo que está errado em ordem, graças ao prestígio que conquistou nas altas esferas do poder.

Normalmente ele consegue articular para que alguma obra ou outra seja iniciada durante a sua campanha para prefeito, com recursos do governo estadual ou federal a quem está ligado, mas com uma condição: que essa obra obra só seja inaugurada nas vésperas da eleição, com um belo discurso dele no palanque, é claro.

Por isso, quando você vir aquelas máquinas remexendo a terra de lá pra cá por meses e meses, e aquele asfalto que nunca chega, fique bem atento; só vai funcionar, se funcionar, quando a eleição estiver próxima, pra deixar aquela impressão enganosa nos mais ingênuos: "Esse faz!".

Outro ponto desse tipo é que ele costuma ser aquele mesmo deputado que passou vários anos sumido depois que foi eleito, e só reapareceu agora como salvador.

Nas votações importantes, como a do aumento de impostos, por exemplo, votou contra o povo para garantir o proprio favorecimento com emendas parlamentares 

O BOQUIRROTO

Esse é o mais insignificante de todos o tipos exóticos da política municipal.

A estratégia dele é facilmente identificável, e consiste somente em tentar fazer muito barulho para chamar a atenção.

Esse é aquele que quando acontece algum protesto legítimo da população, ele aparece com um carro de som com a foto dele bem grande plotada, e se posiciona na lateral da manifestação, onde começa a dizer frases agressivas para criar repercussão.

Se consegue chegar a um cargo de verador, por exemplo, usa a tribuna para fazer ataques performáticos a figuras públicas, para render polêmicas e chamar a atenção. Como no fundo não passa de um bobo, só os bobos vão atrás dessa conversa. 

E aí? Você identificou algum desses personagens aí na sua cidade? 

O que fazer para escapar da teia desses aventureiros na hora de colocar o voto na urna. É simples: pesquise a vida dos candidatos, veja quem eles apoiam e a quem estão coligados, que serviços já prestaram de verdade. Veja se têm alguma experiência administrativa, se têm ficha limpa.

Aquele ou aquela que já provou na prática que pode fazer uma gestão satisfatória, acaba sendo sempre a opção menos arriscada. 

*Augusto Quinto nasceu em São Joaquim, Santa Catarina, em 1962. É jornalista, doutor em Ciências Políticas pela Universidade de Brasília - Foi assessor e consultor de grandes nomes da política nacional e atualmente mora na Itália, de onde escreve artigos esporádicos para sites brasileiros e estrangeiros, inclusive para o Portal Aliança BR.

 

 

 

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