Por Flávio Gordon/Revista Oeste
Não há improviso no antissemitismo do mandatário brasileiro. Por trás de sua fala indecorosa, há toda um cultura política e uma estratégia geopolítica em curso.
A fala abjeta do atual mandatário brasileiro — que mergulha o país num dos mais graves incidentes diplomáticos de nossa história, levando-nos às raias da ruptura de relações com Israel e para o colo dos terroristas do Hamas — advém desse caldo.
Hoje, diante do recrudescimento da hostilidade a Israel que se tornou mainstream na assim chamada ‘comunidade internacional’, as observações de Jankélévitch soam até óbvias, embora não o fossem na época.
Pelo menos parte da judeofobia contemporânea bem como o antagonismo em relação ao Estado nacional judaico servem psicologicamente como um mecanismo de compensação para descarregar sentimentos de culpa latentes e muitas vezes não confessados sobre os judeus.
Na verdade, aqueles que rotulam Israel como um Estado nazista matam dois coelhos com uma cajadada só.
Ao mesmo tempo que apontam o dedo para as vítimas de outrora — que não seriam melhores do que ninguém (e, a bem da verdade, seriam até piores, haja visto não terem aprendido com sua própria história) —, ficam livres para expressar, em linguagem antissionista e politicamente correta, sentimentos de antipatia aos judeus que já são seriam francamente aceitos entre as pessoas educadas.
Transformando a Estrela de Davi na suástica, os adeptos dessa retórica mudam as vítimas em perpetradores, legitimando o ato de vilipendiar como ‘racistas’, ‘fascistas’ e apologistas da ‘limpeza étnica’ os judeus e os simpatizantes do Estado ‘nazista’ de Israel.
De fato, em muitos países europeus (notadamente na Bélgica e na França), estudiosos relatam ser cada vez mais difícil discutir o Holocausto sem equilibrá-lo com referências obrigatórias à Palestina, destinadas a equiparar os horrores da Alemanha Nazista com os da Nakba (‘catástrofe’) palestina desde 1948.