A ópera do absurdo começou no fim da tarde de 8 de janeiro de 2023, quando Geraldo resolveu jantar mais cedo num centro de acolhimento de desabrigados próximo da Esplanada dos Ministérios.
Com tempo de sobra, sem nada de urgente a fazer, o homem anexado pela novilíngua esquerdista à tribo das ‘pessoas em situação de rua’ foi espiar o que se passava nos lugares que habita.
Ficou intrigado com a procissão de gente trajada de verde e amarelo que avançava rumo à Praça dos Três Poderes. Curioso, juntou-se à multidão para descobrir como aquilo acabaria.
Não acabaria bem, desconfiou ao aproximar-se do prédio do Congresso: centenas de pessoas que desconhecia corriam em diferentes direções, para escapar de bombas de efeito moral atiradas por helicópteros. Ele achou melhor cair fora da zona conflagrada.
Tarde demais. A retirada mal começara quando se viu interceptado por manifestantes convencidos de que ali estava “um infiltrado petista”. Para sorte de Geraldo, quatro ou cinco soldados da Polícia Militar estavam por perto, viram o que ocorria e interromperam em seu início a sucessão de socos e pontapés.
Para azar de Geraldo, os mesmos policiais que o livraram de um possível linchamento decidiram transferir para a cadeia agressores e agredidos. O morador de rua tinha tanto a ver com os barulhos daquele domingo quanto bebês de colo ou tribos isoladas da Amazônia.
Não invadiu qualquer das sedes dos Três Poderes, não depredou coisa alguma e nunca ouvira falar em golpe do Estado. Apenas estava no lugar errado no dia errado. Isso lhe rendeu 11 meses de cadeia injustamente.
Mas esse não foi o único caso de injustiça e de abuso de poder. O sacoleiro Ademir da Silva, de 54 anos, chegou a Brasília por volta de 18 horas do dia 8 de janeiro de 2023, vindo de Gravataí (RS), a fim de vender suas mercadorias na capital federal. Ambulante, ele comercializa camisas, bonés, bandeiras e diversos objetos.
Ao passar pelo Quartel General (QG) do Exército, uma hora depois de desembarcar, acabou impedido pela polícia de deixar o local. Dessa forma, teve de dormir entre os manifestantes. Na manhã do dia seguinte, foi preso com os demais e levado à Papuda.
Silva recebeu ainda uma denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) pelo cometimento dos crimes de incitação às Forças Armadas e associação criminosa.
Conforme a advogada Taniéli Telles, que atua na defesa de Silva, o homem não se identifica como um dos manifestantes e evita até mesmo declarar em quem vota. "Ademir é itinerante", contou Taniéli. "Ele viaja o Brasil para revender o que adquire no Paraguai."
Ainda segundo Taniéli, o horário em que o homem desceu na rodoviária mostra que ele também não participou da quebradeira na Praça dos Três Poderes.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), contudo, mesmo sabendo desses fatos, negou um pedido de soltura feito por Taniéli em fevereiro.
O juiz do STF alegou que Silva fez uma postagem difundindo fake news nas redes sociais. Taniéli, no entanto, observou que o post mais recente de Silva no Twitter/X é de 2017.
Fonte: Revista Oeste