Por J. R. Guzzo/Gazeta do Povo
A “justiça eleitoral”, um mamute burocrático que não existe em nenhuma democracia séria do mundo, e engole dinheiro público na base de 1 bilhão de reais por mês, resolveu salvar o mandato do senador Sergio Moro.
Altas análises de ciência política estão sendo feitas em torno da decisão, com teoremas sobre o “tensionamento” das relações com o Senado Federal, ou sobre o “distensionamento” etc. etc., mas a pergunta fundamental nunca é feita: por que as eleições no Brasil são um caso de Justiça ou de polícia?
Países realmente democráticos nunca precisaram de um negócio desses; fazem eleições livres, contam os votos e a vida vai adiante.
Aqui as eleições não acabam nunca – talvez porque nunca comecem de verdade, como exige a democracia.
O importante, nas eleições brasileiras, não é o voto dos cidadãos. É o que acha a “justiça eleitoral”. O resultado pode valer, pode não valer. Está sujeito a 27 tribunais regionais diferentes, mais um tribunal eleitoral supremo.
Tem de sobreviver a recursos, agravos, embargos e sabe lá Deus mais o que. O senador Moro, um ano e meio depois de ser eleito, vai poder enfim começar o seu mandato.
A população diz que quer uma coisa. Os burocratas do TSE, que não receberam o voto de ninguém, querem outra. O que vale é a vontade dos peixes graúdos do sistema eleitoral.
O extraordinário, nessa e em todas as histórias do mesmo tipo, é que as “instituições brasileiras” consideram a coisa mais normal do mundo o cidadão ter 2 milhões de votos, como no caso de Moro, e ser demitido do cargo para o qual foi eleito. A população diz que quer uma coisa.
Os burocratas do TSE, que não receberam o voto de ninguém, querem outra. O que vale é a vontade dos peixes graúdos do sistema eleitoral. E os eleitores? Perderam, manés.