Uma pequena mercearia de bairro em Macapá (AP), chamada "Queijo Minas", uma locadora de veículos e máquinas no Distrito Federal e uma fábrica de sucos e sorvetes em Tatuí, no interior de São Paulo.
Essas foram as principais vencedoras do leilão realizado pelo governo Lula para comprar 260 mil toneladas de arroz, em uma operação de R$ 1,3 bilhão em junho. Na última terça-feira, 11, cinco dias depois, o certame foi cancelado diante da possibilidade de instalação de uma CPI na Câmara dos Deputados e do pedido de investigação ao Tribunal de Contas da União (TCU) por suspeita de fraude.
No mesmo dia, o secretário de Política Agrícola do governo, Neri Geller, foi demitido. A justificativa oficial para a anulação do leilão foi que as empresas vencedoras ‘têm fragilidades’; logo, ‘não demonstraram capacidade financeira para operar um volume desse tamanho’.
Na prática, o problema era ainda maior: elas não são do ramo de importação, ou seja, nem sequer deveriam ter participado da concorrência — duas das arrematantes tinham restrições da Receita Federal para comércio exterior.
Aliás, toda a operação, cujo montante total chega a 300 mil toneladas de arroz estrangeiro tipo 1 — o ‘agulhinha’ —, ao custo de R$ 1,7 bilhão, foi desastrosa.
Em entrevista à Revista Oeste, Gedeão Pereira (foto), diretor da CNA - Confederaçãoda Agricultura e Pecuária do Brasil - fez o sweguinte prognóstico sobre as consequências da compra de arroz pelo governo:
“É muito difícil dimensionar um valor exato. Pode ser R$ 10 bilhões, R$ 50 bilhões, R$ 100 bilhões. No setor de grãos, vamos perder por volta de 5 milhões de toneladas de soja. No arroz, por exemplo, praticamente não houve perda, tanto que somos contra a importação anunciada pelo governo. Agora, há produtores de gado de leite que perderam as instalações na fazenda e até mesmo todas as vacas. Alguns criadores de aves e suínos ficaram sem nenhum animal e, nos galpões, sobrou apenas a terra. Existem casos piores, vi propriedades em que até a terra foi embora”.
Fonte: Revista Oeste