Por Robson do Val
Quem advinharia que a cidade de Cássia, no sul de Minas Gerais, já quase na divisa com São Paulo, que tem hoje pouco menos de 20 mil habitantes, guarda em seu território uma das maiores potências espirituais nascentes do Brasil?
Muita gente no país ainda não tomou conhecimento, mas aqui neste lugar pacato, como costumam ser quase todas as cidades do interior mineiro, está o maior santuário do mundo dedicado a Santa Rita de Cássia.
Tudo começou quando, em 2018, o empresário cassiense Paulo Flávio de Melo Carvalho, resolveu dar de presente à cidade, um templo que fizesse homenagem à santa italiana que deu nome ao município, que é conhecida como a santa das causas impossíveis.
A promessa foi cumprida. Quatro anos depois, exatamente em 22 de maio de 2022, dia de Santa Rita, o espaço era inaugurado, com incríveis dimensões para um santuário.
O templo tem lugar para cinco mil pessoas sentadas e duas mil em pé. O estacionamento tem vagas para pelo menos 200 ônibus e cerca de mil automóveis de passeio.
Interior do santuário de Santa Rita de Cássia - MG
Na área total de 180 mil metros quadrados, com 100 mil metros de área construida, há ainda um centro comercial, com 36 lojas de artigos religiosos, praça de alimentação, uma réplica em tamanho natural da casa onde Santa Rita viveu na Itália, e até um heliponto.
Estima-se qua nesses poucos anos desde a inauguração, mais de meio milhão de fiéis, de todas as parte do Brasil e do mundo, já tenham visitado o local.
Mesmo assim esse ainda é um número pequeno, se considerarmos o potencial do lugar e a pouca divulgação.
A devoção a Santa Rita tem força em todo o território nacional, mas em nenhum outro lugar é tão forte como no interior de Minas Gerais.
Segundo um dos diáconos que costuma celebrar na paróquia local, Antônio Faleiros, a grande veneração dos fiéis a Santa Rita, acontece em grande parte por identificação com a história de vida dela:
- Santa Rita passou por quatro etapas de vida que são comuns à existência da maioria das pessoas e superou todas elas com muita fé e dignidade. Primeiramente ela foi uma jovem devota, que queria desde cedo seguir a vida religiosa. Pressionada a se casar com um jovem rico e de vida dissoluta, mesmo assim tornou-se uma esposa exemplar, a ponto de converter o marido ao cristianismo. Em seguida tornou-se mãe, e teve que suportar a enorme dor de perder os dois filhos para a peste, que assolava a Europa naquela época. Por último, com o assassinato do marido, tornou-se uma viúva virtuosa, que retomou a sua vocação original entrando para um convento - relata o diácono.
Réplica do quarto de Santa Rita, copiada da casa onde ela viveu na Itália
O diácono nos recebeu para conversar na Igreja matriz da cidade, que fica na praça principal e que também é dedicada a Santa Rita. O templo, de 1943, impressiona pela riqueza artistica dos afrescos e das imagens, projeto de um artista italiano. A igreja guarda até uma relíquia de Santa Rita, presente dado pelos paroquianos da cidade natal da santa, na Itália, que também se chama Cássia.
Tanto o diácono Antônio, quanto o padre Michel Pires que, ainda jovem - nem completou 40 anos - tem a enorme responsabilidade de ser reitor do imenso santuário, concordam que, com a crise de valores e de fé que o mundo atravessa, essa casa construida em homenagem a uma santa católica, com dimensões tão grandiosas, tem tudo para se tornar um centro de resistência da relação profunda do homem com Deus, a única relação capaz de superar e de enfrentar todas as dificuldades que surgem em nosso caminho.
- Em meio a essa cultura geral da indiferença, aqui você consegue rezar - comenta o padre Michel - O santuário é um lugar de paz. Aqui tem uma espiritualidade muito forte; as pessoas se sentem bem, se sentem acolhidas. Contemplar a vida de Santa Rita é um grande canal de esperança. As pessoas percebem que, se Santa Rita conseguiu superar coisas que pareciam impossíveis, elas também podem conseguir - complementa.
Interior da igreja Matriz de Santa Rita de Cássia (1943)
Mas para que esta grande obra contruida em nome da fé, que é o santuário, se torne uma referência nacional e até mundial para os devotos, visto que tem potencial de sobra pra isso, ainda existem alguns desafios que precisam ser superados. Mas como Santa Rita é reconhecida com a santa das causas impossíveis, isso também não há de ser nada tão difícil.
A estrutura de hospedagem e alimentação, por exemplo, ainda é muito modesta. José Eduardo Almeida é proprietário de um dos únicos hoteis do lugar, que também oferece serviço de restaurante.
- Hoje eu considero que a vinda de outros empreendimentos semelhantes ao meu pra cá, não representaria uma concorrência indesejada - comenta o empresário - Torço mesmo para que outros empreendedores abram novos hoteis e restaurantes aqui em Cássia, pois só assim vamos nos tornar um polo atrativo para o grande público. Já temos o santuário, agora temos que trabalhar para oferecer o máximo de conforto aos visitantes. Desse jeito todo mundo vai sair ganhando - completa com a sua peculiar generosidade mineira.
José Eduardo revela ainda, que uma das alternativas que estão sendo trabalhadas há algum tempo para atrair visitantes para a região, é a criação de roteiros turísticos que envolvam outras cidades, onde Cássia possa ser uma parte do passeio.
- O roteiro turístico da Serra dos Gerais e Canastra tem tanto opções de turismo religioso, quanto de turismo de natureza, e nós já estamos trabalhando nele há alguns anos - revela Eduardo - Toda essa nossa região está repleta de belezas naturais e de lindas igrejas. Temos certeza de que um dia seremos um dos destinos preferidos do país, basta que criemos uma estrutura compatível com a demanda, e que levemos isso ao conhecimento do maior número de pessoas possível - conclui.
Quem conhece os milagres de Santa Rita, não tem a menor dúvida de que todas esses prognósticos positivos em relação à essa pequena cidade do interior de Minas Gerais, logo estarão confirmados.