Por fernando Jasper/Gazeta do Povo
O presidente Lula não gosta de ser cobrado pelo rombo das contas públicas. Já disse que "nenhum país do mundo" faz essa discussão e que o governo não deve perseguir metas fiscais se houver "coisas mais importantes para fazer".
Vez ou outra, assume ares de austeridade. Diz ser mais sério que os que "dão palpite" sobre as finanças do governo, que tem experiência de administração bem-sucedida e que traz responsabilidade fiscal do berço.
"Entre as muitas lições de vida que recebi de minha mãe, dona Lindu, aprendi a não gastar mais do que ganho", disse certa vez. "Tem uma coisa na minha vida que eu sempre prezei muito: primeiro, eu não gosto de gastar aquilo que eu não tenho. Eu aprendi com uma mulher analfabeta, que era minha mãe", contou em outra ocasião.
Pode ser que Lula seja mesmo cuidadoso com as próprias finanças. Na lida com o dinheiro coletado dos contribuintes, porém, o presidente parece entender que bom gestor é aquele que distribui bondades. No atacado e no varejo. Ele acaba de fazer mais uma – falaremos disso daqui a pouco.
A questão não é apenas a recusa do petista em cogitar corte de gastos, mas a obstinação em aumentar despesas. A começar pelas maiores.
Ao retomar a política de aumento real do salário mínimo (e, portanto, de aposentadorias, pensões e outros benefícios) e reindexar os gastos com saúde e educação a um porcentual das receitas, o petista acionou uma bomba-relógio.
Esses itens representam 60% das despesas federais, excluídos os juros da dívida, e passaram a crescer muito além dos limites do arcabouço fiscal proposto pelo próprio governo.
Consequência: o Orçamento será cada vez mais consumido por gastos obrigatórios, sobrando ainda menos para todo o resto, até que não haja mais verba de livre manejo. Investimento público? Melhora dos serviços prestados pelo Estado? Difícil.