Por Henrique Bredda
Nas Sagradas Escrituras existe a figura do profeta. Uma boa definição de profeta é aquela pessoa que tem discernimento do que convém e do que não convém, que também denuncia o que está errado e aponta o caminho certo, ou ainda aquele que anuncia a Palavra do Senhor, à luz do seu aguçado intelecto, iluminado pela Graça Divina.
Mas nas Sagradas Escrituras existe uma lacuna de 400 anos. Esse é o tempo que decorre entre o fim do Antigo Testamento e os acontecimentos do Novo Testamento.
Esse tempo é conhecido como Período Interbíblico, que marca o silêncio profético de Malaquias, último dos profetas do Velho Testamento, até a pregação de João Batista.
O que houve nesses 400 anos de "silêncio profético"?
Talvez devamos sair um pouco do mundo judaico e darmos uma olhada no mundo grego. Curiosamente, nesse mesmo período o mundo estava passando por um dos seus momentos mais lúcidos e reveladores, através das palavras, não de profetas, mas de filósofos fundadores da nossa civilização: Sócrates, Platão e Aristóteles.
Um olhar mais cuidadoso pode enxergar algo profético nas palavras de Platão, que escreveu como seria o homem justo:
" (.. um homem simples e nobre que, como diz Ésquilo, - não quer parecer, mas ser bom. Devemos, portanto, tirar dele a aparência de justiça; pois se ele aparenta ser justo, ele terá honras e dádivas por aparecer assim, e não ficaria claro se era apenas por amor à justiça ou por dádivas e honrarias. Portanto, ele deve ser despojado de tudo, menos da própria justiça: (...) ele pode ter o maior fama de injustiça, para que seja posto à prova (...); prossiga inflexível até a morte, apresentando-se toda a sua vida como injusto e sendo justo (...): açoitado, torturado, amarrado, seus olhos serão queimado e, finalmente, depois de ter sofrido todos os martírios, será crucificado." (Platão, A Repubblica, livro II).
Aristóteles, ao seu modo, também se debruçou sobre um problema "insolúvel": como estreitar o abismo entre o "ato puro" (Deus) e todo o mundo físico, embora tudo o que existe nesse mundo tenda ao ato puro, à Deus.
A solução para a questão de Aristóteles era a encarnação do Logos, Deus feito homem, mas isso fica para um próximo texto.