Não é de hoje que os progessistas resolveram declarar guerra às produções culturais do passado, quando elas contrariam as regras de comportamento que eles querem impor, de forma generalizada, a toda a sociedade.
Não importa se a obra foi produzida em outro contexto social, quando algumas expressões e hábitos eram normalizados; eles simplesmente saem metendo a mão no texto, e reescrevendo da maneira que consideram "politicamente correta", criando verdadeiros aleijões.
No Brasil, por exemplo, Monteiro Lobato é taxado de racista, por conta da criação de personagens como Tia Nastácia. Uma jornalista de duvidosa capacidade intelectual, reescreveu a obra inteira de Machado de Assis, simplificando a linguagem para torná-la compreensível aos menos favorecidos pela cultura.
É óbvo que melhor seria, até como registro histórico, que as obras permanecessem do jeito que foram escritas, e que cada leitor desenvolvesse o discernimento necessário para avaliar o que é válido eticamente e o que não é.
Também seria muito mais produtivo manter a complexidade dos textos de Machado de Assis para que os jovens se esforçassem para compreendê-lo através do estudo da lingua.
Mudar as obras para evitar compreensões equivocadas é o mesmo que considerar a massa de leitores idiota. O pior de tudo isso é que, na maioria das vezes, os autores das obras que passam por esse processo de adulteração já estão mortos, e não têm sequer o direito de defender os seus trabalhos desse verdadeiro vandalismo cultural.
Roald Dahl, britânico autor de “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, falecido aos 74 anos em 1990, está tendo seu texto submetido pela editora à interferência póstuma por causa de críticas de “leitores sensíveis” profissionais — que querem alterações que muitos chamariam de politicamente corretas.
A Puffin Books, selo editorial da gigante Penguin para títulos infantis, fundado em 1940, publicou uma nota discreta em sua página de copyright declarando que seus livros “foram escritos há muitos anos, portanto, nós fazemos revisão regular da linguagem para assegurar que continuem a ser desfrutados por todos hoje”. O autor já vendeu mais de 250 milhões de cópias de suas obras no mundo.
Seis outros livros do autor foram afetados pela edição “sensível” além de “A Fantástica Fábrica”, livro publicado originalmente em 1964, com primeira adaptação em filme de 1971 e edições diferentes em português — a reportagem usou a tradução de 2016, da Martins Fontes.
O jornal britânico The Telegraph encontrou a nota e publicou uma investigação preliminar das mudanças na última segunda-feira (20). “A linguagem relacionada ao peso, saúde mental, violência, gênero e raça foi cortada e reescrita”, resumiu o jornal.
Uma das mais importantes foi no livro “Matilda”(1988): uma menção a outro autor infantil britânico, Rudyard Kipling, uma clara homenagem de Dahl, foi cortada e substituída pela respeitada autora Jane Austen, em nome da diversidade de gênero.
Entre outras mudanças, Augusto Glupe, menino gordo que cai em um rio de chocolate da fábrica porque “só ouvia a voz do seu enorme estômago” e se debruçara na grama “lambendo o chocolate como se fosse um cachorro”, não pode mais ser chamado de “gordo como um balão inflado, tinha o corpo cheio de dobras de banha e seu rosto era uma bola de massa com dois olhinhos espremidos”, como diz a edição original. Agora, em vez de gordo, Augusto é apenas “enorme”.
Com informações da Gazeta do Povo