Houve um tempo em que era considerado impróprio manifestar algum posicionamento em relação ao gênero, que não estivesse dentro das normas tradicionais de homem e mulher. Sair desse padrão já foi considerado uma atitude vergonhosa, que era preciso manter escondida.
Com o tempo a tolerância foi aumentando. Depois de muitas reivindicações, os indivíduos que não se enquadram nas normas tradicionais, passaram a se manifestar publicamente, ganhando inclusive a proteção dos mecanismos estatais.
O que ninguém esperava, era que aquela antiga luta pela igualdade acabasse se degenerando em um posicionamento supremacista, onde quem pensa da maniera antiga, e só considera válido o padrão tradicional, fosse perseguido por seus posicionamentos e perdesse até o direito de manifestação.
Hoje se alguém defende a liberdade e a multiplicidade dos gêneros, pode se manifestar em qualquer lugar e recebe aplausos entusiasmados da mídia.
Empresas fazem campanhas enaltecendo a badalada diversidade. Qualquer um que entre em conflito com alguém que se identifica com um gênero de exceção, já entra no processo em desvantagem.
O judiciário está cheinho de armadilhas para os conservadores, e repleto de protecionismo para os chamados progressistas.
Enfim, o que era para ser somente um luta pela igualdade de direitos, passou do ponto e virou uma ditadura abjeta, de discurso único, onde nem os parlamentares, eleitos para defender principios e valores dos seus eleitores, têm mais a liberdade de se manifestar na tribuna para defenderem os seus pontos de vista.
A bancada do PSOL na Câmara dos Deputados ingressou com uma notícia-crime no Supremo Tribunal Federal (STF), nesta quarta-feira (8), contra o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), após ele discursar no plenário no Dia da Mulher.
Usando uma peruca, o parlamentar mineiro disse que "mulheres estão perdendo espaço para homens que se sentem mulheres". Para a bancada do PSOL, as declarações configuram o crime de transfobia.
"Para vocês terem ideia do perigo de tudo isso, eles estão querendo colocar a imposição de uma realidade que não é a realidade. Ou você concorda com o que estão dizendo ou, caso contrário, você é um transfóbico, um homofóbico e um preconceituoso", afirmou Ferreira em outro trecho de seu discurso.
Durante a sua fala, o parlamentar também opinou que as "mulheres não devem nada ao feminismo".
Na ação, o PSOL pede que o Supremo acolha a notícia-crime, que proceda com as diligências necessárias para que Nikolas Ferreira seja investigado e, se for comprovado que houve crime, pede que o parlamentar seja denunciado por "induzir e incitar a discriminação e o preconceito contra pessoas trans e travestis".
A transfobia foi equiparada ao crime de racismo pelo STF, em 2019, e passou a ser tratada como crime hediondo.