O ex-governador da Bahia, Otávio Mangabeira, cunhou uma expressão que se tornou um chavão na política do estado: “Pense em um absurdo. Na Bahia tem precedente.”
A prova de que Mangabeira estava certo, se revela no que está acontecendo hoje em relação à BR-116, uma rodovia federal pedagiada, que deveria ter sido duplicada há mais de dez anos e que ainda não foi.
A concessionária que administra a rodovia, a VIABAHIA, se recusa a cumprir a cláusula contratual que determina a duplicação, alegando que está tendo prejuízos financeiros e que é necessária uma revisão contratual.
Por conta dos inúmeros transtornos criados pelo atraso no início das obras, como a ocorrência frequente de acidentes fatais e prejuízos financeiros no transporte de mercadorias, a comunidade do sudoeste do estado, representada por diversos lideres dos setores público e privado, chegou a criar um movimento organizado, exclusivamente pra pleitear a duplicação, denominado “Duplica Sudoeste”.
Esta semana o movimento conseguiu trazer a Vitória da Conquista o presidente da concessionária, José Bartolomeu, para um debate com os integrantes do movimento.
O evento teve uma grande adesão, e reuniu centenas de pessoas no auditório do CEMAE, incluindo parlamentares, prefeitos, empresários, representantes da justiça, das diversas forças policiais, profissionais liberais, imprensa, entre outros, dando clara demonstração de força da mobilização.
O movimento “Duplica Sudoeste” é liderado pelo empresário José Maria Caires, o mesmo que liderou outra mobilização importante para a região, denominada “Conquista Pode Voar Mais Alto”, que acabou sendo decisiva para a instalação do novo aeroporto de Vitória da Conquista.
O dirigente da VIABAHIA não encontrou facilidades no debate com as lideranças do sudoeste baiano.
Inicialmente, José Bartolomeu tentou argumentar que a concessionária está tendo prejuízos na administração da BR-116, e voltou à velha retórica de que é preciso rever as bases do contrato, para que ele se torne viável.
A explicação do representante da concessionária, não convenceu à numerosa plateia, que em alguns momentos chegou a gritar em coro: “Fora VIABAHIA!”.
Um dos discursos mais firmes foi o do prefeito de Belo Campo e atual presidente da União dos Municípios da Bahia, José Henrique Tigre, que, sem deixar de lado a educação, declarou que os argumentos apresentados por José Bartolomeu eram inaceitáveis.
O prefeito disse ainda, que tomará providências para ingressar com uma ação judicial contra a VIABAHIA, com a adesão de todos os 417 municípios baianos, porque considera que a não duplicação da rodovia prejudica o estado inteiro.
O vereador de Vitória da Conquista, José Carlos Dudé, foi ainda mais firme no seu pronunciamento. Além de declarar que os argumentos do presidente da concessionária eram inconsistentes, ele criticou a inércia dos deputados governistas que estavam presentes ao evento, que, segundo ele, até agora não fizeram nada de efetivo para solucionar o problema.
O vereador finalizou sugerindo que, se a empresa não está satisfeita com os resultados, que tenha pelo menos a decência de pedir o cancelamento do contrato, e que dê espaço a outra empresa, que tenha condições de atender às demandas que estão sendo sonegadas.
No final, depois de ter sido muito pressionado, o presidente da VIABAHIA se comprometeu a iniciar as obras de duplicação ainda no segundo semestre deste ano.
A mobilização deve continuar mesmo assim, porque outras promessas como essa já foram feitas e simplesmente não foram cumpridas.