Por Rodrigo Oliveira*
Albert Camus disse que Nietzsche não assassinou Deus, mas o encontrou morto. Sem a sua presença em muitas vidas, o espírito moderno se viu com a obrigação de preencher a lacuna.
Chesterton dizia que o problema de não se acreditar em Deus é que o indivíduo passa a estar aberto a acreditar em qualquer coisa. Até mesmo que é um deus.
Durante um certo período, o Super-Homem ou Além-do-Homem niezschiano foi uma idealização que moveu – e ainda é capaz de mover – diversas paixões. A possibilidade de sermos deuses para nós mesmos é tentadora.
Esse desejo percorre séculos e milênios. De Prometeu a Frankenstein – a vontade de criar um ser à nossa imagem e semelhança é persistente. Quem não deseja criar um mundo para chamar de seu? Quem não quer ser idolatrado? Quem não é movido pelo orgulho?
O homem sempre quis fazer seu próprio altar – sem nomear os ditadores e totalitários, Auguste Comte e Ayn Rand são duas provas disso!
Na falta de Deus, diversas pessoas se proclamar deusas. O transumanismo segue esse mesmo anseio. Como explica John Gray: “O transumanismo é uma versão contemporânea de um projeto moderno de autoendeusamento humano”.
O anseio de Prometeu nos move. Queremos transvalorar os valores, nos colocar acima do bem e do mal, criar um mundo artificial para chamar de nosso (a subcaverna, como chamou Leo Strauss).
Em um mundo onde todos são deuses, esses deuses se fazem à imagem e semelhança dos limites humanos. Esqueceram-se de dizer que são deuses repletos de vícios.
Mas não são aqueles vícios poderosos e resplandecentes dos deuses gregos. São vícios comuns, mesquinhos, que nos correm diariamente aquilo que chamamos de “humanidade”.
Essa forma mesquinha de ser é típica dos deuses depressivos – podemos nos chamar de deuses, desde que fique claro que somos deuses doentes. Como bem explicou C. S. Lewis: “a conquista final do homem revelou-se a abolição do homem”.
Esses deuses depressivos revelam, a cada dia, o seu lado indigno, mesquinho, sofrível, vicioso e desumano de ser. Na ânsia de sermos deuses, nos tornamos a forma mal acabada de Deus – nos tornamos a imagem e semelhança do diabo.
*Prof.: PUC/MG
Autor: Ensaios sobre os deuses depressivos e Almas de Mármore
Curso Luz & Trevas