*Por Rodrigo Oliveira
A notícia de que a UFRJ vai adaptar o currículo de cálculo para tornar a matéria mais fácil resume bem o espírito do nosso tempo.
Nós não estamos assistindo à decadência da educação, mas contemplando os entulhos. A sua queda já aconteceu faz tempo. O momento em que estamos é de andar sobre a destruição.
Entender a causa disso envolveria um estudo muito complexo. No entanto, é possível apontar alguns fenômenos que favorecem máquina de criar analfabetos que chamamos de educação brasileira.
Uma das piores profissões no Brasil é a docência. O professor não tem status, muito menos salário. O espaço da docência é permeado de sem formação ou até mesmo cultura.
Geralmente, no Brasil, as pessoas escolhem a profissão de professor por ser fácil de entrar. Dito isso, vamos apontar algumas causas do estado atual:
I) Pedagogos deveriam ser os mais bem remunerados. Todavia, são os que recebem os salários mais baixos. A intensidade de desenvolvimento de uma criança nunca é presenciada em qualquer outro período. É o momento em que deveríamos ter os maiores investimentos – tanto em espaço físico quanto nos profissionais.
II) Os espaços físicos são precários. Já disse várias vezes: escolas estaduais se parecem com prisões. São verdadeiros puxadinhos, onde prevalece somente o necessário – às vezes nem isso: falta folha de papel A4, carteiras decentes e até mesmo papel higiênico. As salas de aulas são pequenas e abarrotadas.
III) O plano pedagógico é ultrapassado. No Brasil, todo mundo permanece no mesmo lugar: quem quer estudar com quem não quer absolutamente nada. Os professores não têm liberdade nenhuma para criar novas disciplinas. É tudo engessado.
IV) A família tem se desestruturado cada vez mais. O ambiente familiar de muitos alunos é um inferno. Existem abusos, pais ausentes, violência etc. É um caos.
V) Estamos em um período de adaptação em prol do medíocre, e com a desculpa de que é para o bem da pessoa. Currículos são adaptados para fazer com que o péssimo aluno consiga um diploma. É mais fácil maquiar o problema do que tratá-lo. A educação brasileira é uma eterna maquiagem. Existe somente para dar uma mínima satisfação pública.
*Professor de Filosofia/Escritor
Autor: Ensaios sobre os deuses depressivos e Almas de Mármore