Por Rodrigo Oliveira*
Estou lendo 'As ferramentas perdidas da aprendizagem', de Dorothy L. Sayers. A base do que está ali pode ser encontrada nas minhas postagens e livros, também.
É impressionante como a educação brasileira é uma máquina de diplomar analfabetos. Eu sempre me assusto com o intenso curso de "deseducação" que está em processo.
O professor Gustavo Bertoche, na introdução, cita dois fetichismos que consomem os alunos e professores: o fetichismo do livro didático e da prova.
O brasileiro médio não aprende, mas decora; não sabe interpretar, mas somente repetir. A escola faz com as pessoas deixem de contemplar para simplesmente agir de forma mecânica. Aliás, tudo na educação é mecânico e externo. A vida interior é completamente ignorada. O que prevalece nisso tudo? A prova.
Os alunos brasileiros estudam para a prova – decoraram, aplicam o que decoraram para obterem um resultado que não condiz com aquilo que realmente sabe (pois geralmente não sabem quase nada).
É, de fato, uma pedagogia da amnésia. Após a prova, esquecem tudo. Quem é professor do Ensino Médio sabe que tem de repetir os conteúdos diversas vezes no mesmo ano, pois quase ninguém se lembra mais do que foi passado.
No entanto, esse brasileiro médio acredita que o livro didático é a única referência para o conhecimento, assim como ir bem na prova é o único resultado a ser buscado. Interpretar, criticar, refletir, conhecer… Nada disso faz sentido na educação. Aliás, essas palavras foram todas corrompidas.
Interpretar não significa interpretar a realidade, mas texto curto; criticar não significa analisar, perscrutar, analisar, mas emitir uma opinião sobre determinado assunto; refletir não envolve estudo, mas somente pensamentos desconexos; em meio a tudo isso, conhecer significar ter domínio superficial para retirar alguma vantagem profissional ou financeira sobre o que estuda.
* Professor de Filosofia
Autor: Ensaios sobre os deuses depressivos e Almas de Mármore