Por Rodrigo Oliveira*
No início da pandemia, recebi um vídeo de uma mãe esbravejando: “Agora, em vez de descansarmos aos fins de semanas, temos de ensinar os nossos filhos, realizar tarefas com eles!”.
Esse poderia ser o grito da nossa decadência. A lamúria das nossas misérias. O hino que simbolizaria a queda daquilo que entendemos por família e educação.
Os pais já não suportam educar seus próprios filhos. Eles terceirizaram isso. Nas escolas, dá para sentir facilmente essa terceirização.
No Ensino Médio, alunos reclamam de não ter pais presentes ou da ignorância (em todos os aspectos) dos pais. Certa vez, por causa do caos familiar, um aluno me disse: “Queria que você fosse meu pai”.
Já recebi relato de pais dizendo ao filho para não dar importância à filosofia, pois o que realmente importava era a matemática; já tive pais reclamando de o filho ir mal na escola por causa dos professores e não por conta do comportamento do seu próprio filho; já presenciei situações em que os pais não sabiam mais o que fazer com os filhos.
A escola é uma pequena amostra da sociedade. A barbárie ali presenciada é a barbárie no âmbito público.
Somos consequência de uma desordem profunda que se inicia na diluição da família, muitas vezes promovida pelos pais egoístas e/ou que se odeiam, fazendo da casa um verdadeiro inferno para se viver.
A verdade é que a escola se tornou uma mistura de centro psiquiátrico com creche, em que muitos pais despejam os filhos para se verem livres deles.
Em um ambiente assim, a educação não é a finalidade, mas um mero detalhe.
*Professor de Filosofia/Escritor
Autor: Ensaios sobre os deuses depressivos e Almas de Mármore