Por Rodrigo Oliveira*
Ansiedade. Medo. Desespero. Crises diversas. Boletos. Cansaço. Tédio. Entretenimento barato.
O desejo de Thoreau é o desejo que nos move para a vida contemplativa [bios theoretikós].
Quem não quer imitar o filósofo que resolveu se afastar de tudo e todos e ir morar, por dois anos, no meio da floresta?
“Fui para os bosques viver de livre vontade,
Para sugar todo o tutano da vida…
Para aniquilar tudo o que não era vida,
E para, quando morrer, não descobrir que não vivi!”
Quem não deseja ser como Chris McCandless? De família abastada, o americano sempre se sentiu alheio às facilidades oferecidas pela sociedade americana.
Chris estava tentando resgatar aquilo que os cínicos sempre buscaram: a vida mais natural possível.
Tinha paixão por Tolstói – escritor russo que, vale salientar, abandonara tudo para ir em busca de alguma coisa desconhecida – de Deus, talvez [ou de si mesmo].
Conhecer-se a si mesmo é tocar, de alguma forma, a divindade.
No entanto, como é possível colocar em prática o conhece-te a ti mesmo socrático em meio ao movimento, às crises, ao tédio, ao entretenimento vazio?
A vida contemplativa foi cortada pela raiz neste mundo de produtos, coisas a serem consumidas, descartadas e vomitadas.
Pulsa em nós uma vontade de parar. Respirar. Ler. Rezar – ou simplesmente meditar.
Pulsa em nós, lá no fundo da alma, uma fome de sentido de vida que pode somente ser atingida na calmaria.
*Escritor e professor de filosofia