Por Rodrigo Oliveira*

Há uma outra pandemia em curso. Ela é silenciosa, mas tem feito estragos profundos.

Tenho recebido diversas notícias de alunos e conhecidos que estão sofrendo de algum mal psíquico: depressão, síndrome do pânico, burnout etc. As tentativas de suicídio se tornaram normais.

As pessoas não estão se aguentando – aliás, nós nunca nos suportamos, porém, agora, menos ainda. Elas estão tentando encontrar, desesperadamente, qualquer tipo de apoio que lhes ofereça alguma força interna. Muitas vezes, esse tipo de busca acaba por cair numa pesadíssima relação com as drogas, com a pornografia ou com o entretenimento sem limite.

É fato consumado que estamos participando de uma estrutura que dilacera o ser humano por dentro, e sem nenhuma capacidade para lidar com esses estragos. Estamos frágeis.

Por quê? A resposta não é simples. São décadas de desprezo em relação às áreas que ensinam a lidar com os sentimentos e as emoções. Além disso, está em curso um niilismo que aniquila qualquer fôlego espiritual. Os gregos sempre foram claros: “Se a vida é tudo, tudo é nada”.

Eu sempre disse: sofrer não é problema; problema é sofrer sem sentido. Estamos sedentos por sentido e faminto pelo pão espiritual, mas somos incapazes reabrir as nossas consciências para uma realidade mais ampla. O fechamento dela foi violento, e a única coisa que conseguimos tomar como real e verdadeiro é o que vem do material.

Tempos atrás, quando escrevi para se prepararem espiritualmente, não foi com um teor de ameaça, mas somente por constatar um fato: a crise é grave, e ela não é somente econômica ou política.

Fazendo uso dos questionamentos de Nietzsche: Vocês não sentem na pele o sopro do vácuo? Vocês não sentem que caímos continuamente? Para trás, para os lados, para frente, em todas as direções?

Professor de Filosofia/Escritor
Autor: Ensaios sobre os deuses depressivos e Almas de Mármore