Rodrigo Oliveira*
Comecei a assistir ao documentário da Xuxa com uma única finalidade: entender melhor as consequências desastrosas da minha geração.
Fui sem esperar muita coisa, mas consegui enxergar o início de tudo o que naturalizamos hoje nas redes sociais: a construção midiática de um ídolo, o fanatismo, a forma instrumental de lidar com a fama, o vício por tela.
Em relação à idolatria, em um dado momento aparece um fã dizendo que escreveu setenta mil vezes “Xuxa, eu te amo”; noutro, mostra uma multidão chorando, gritando, como se estivesse fora de si, enquanto a Xuxa passava acenando.
O que me chamou a atenção é que muitas dessas pessoas não eram crianças, mas adultas. Marmanjos erguendo os braços, tremendo e chorando copiosamente.
Eu sei que essa vontade de erguer um altar para o ídolo não é de agora. Sempre existiu. Max Weber explica isso com o seu conceito de carisma. No entanto, a infantilização do adulto é que me chama a atenção.
Se hoje temos gerações inteiras de adultescentes, é também uma consequência dos estímulos recebidos diariamente pelos programas da década de 1990.
A Xuxa, sem sombra de dúvidas, representa um desses eixos de mudança de comportamento coletivo.
*Escritor(a)
# Mais conhecido na internet como Seymour Glass
# Professor de Filosofia
# Autor: Ensaios sobre os deuses depressivos e Almas de Mármore