Por Luiz Mário Moraes
Nas lendas indígenas norte-americanas e nórdicas havia a figura do metamorfo, uma criatura ou pessoa com a habilidade sobrenatural de se transformar em outra pessoa.
Mas será que todos nós, seres humanos, não somos, de alguma forma, metamorfos?
Heráclito, um dos meus pensadores preferidos da antiguidade, dizia que “nenhum homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio, pois na segunda vez o rio já não é o mesmo, nem tão pouco o homem.”
Essa frase resume muito bem uma constante fundamental da vida: a mudança.
Você certamente não é o mesmo que era quando tinha dois anos de idade, afinal, a sua estrutura de pensamento e concepção do mundo mudou brutalmente desde aqueles tempos.
Ao chegar na puberdade, as mudanças são ainda mais evidentes, não apenas a partir do ponto de vista físico, mas também psicológico.
Aos trinta, você vê aquele seu “pequeno eu” que dava os primeiros passos na jornada da vida quase como um ser desconhecido, totalmente diferente dessa versão estressada e constantemente “sem tempo” que você se tornou.
Porém, existe um observador interno que está e sempre esteve presente ao longo de toda essa metamorfose, que viu você dar os primeiros passos, sentir tristeza ao tomar uma bronca dos pais, a alegria de conseguir se equilibrar sobre a bicicleta pela primeira vez, a emoção do primeiro beijo, a dor do primeiro fora.
Esse observador está e sempre esteve presente, analisando cada momento.
Esse observador é a sua consciência.
Não sabemos exatamente onde ele se encontra e defini-lo é, talvez, o maior desafio da filosofia e da ciência, mas você sabe que ele está lá, inexoravelmente acompanhando todas as fases da sua vida, e ali ele permanecerá até o último momento em que ainda houver lucidez.
Esse observador, que até aqui tratamos como uma entidade externa, na verdade, é quem você realmente é.
Ele é capaz de contemplar a si mesmo, de fazer julgamentos de valor sobre os outros e sobre a própria realidade, de determinar quais serão os rumos para o futuro e, por fim, é capaz de modificar a si mesmo.
Sim, nós, seres humanos, somos seres metamorfos e há, em cada um de nós, a essência para mudarmos a nós mesmos. Você a está usando com sabedoria?