Por Rodrigo Oliveira
A sua vida se consome feito névoa-nada.
Passa como um efeito analgésico.
No domingo à noite, o desespero se inicia. O sujeito começa a pensar na semana. No trabalho. Consome-se na angústia.
Acorda na segunda pensando na sexta-feira.
Chega a sexta e começa a pensar no fim de semana: “Tenho dois dias de descanso”.
O que significa descanso? Cozinhar os sofrimentos colhidos durante a semana.
Domingo à noite a série de tormentos se repete.
No calendário, nenhum feriado no mês. Quantos dias para as férias? — o sujeito conta os dias.
No trabalho , faz a pergunta arquimediano: “Quantos anos para a aposentadoria?”.
A consciência coloca outras questões: Irá aposentar? Irá ter tempo para si? Irá ter saúde para aproveitar a aposentaria e o tempo livre?
A vida escorre entre os dedos. O desespero de o descanso sempre ser distante alimenta sua ansiedade diária.
Trabalha o dia inteiro. Ônibus, suor e tormento. Banho. Cerveja aberta. A ilusão sai dos seus lábios: “S-E-X-T-O-U”.