Em menos de um mês, o Brasil foi associado a dois casos de terrorismo envolvendo milícias islâmicas, o que mostra uma aproximação cada vez maior da influência desses grupos que pregam e praticam o terror, principalmente a partir do Oriente Médio, no país.
O primeiro caso ocorreu no dia 8 de novembro, quando a Polícia Federal prendeu dois suspeitos de ligação com o grupo terrorista libanês Hezbollah, que planejavam praticar atos contra judeus dentro do país, incluindo ataques a edifícios da comunidade judaica, como sinagogas.
Investigações policiais e documentos divulgados apontam que a milícia adentrou no território brasileiro com o auxílio do Comando Vermelho (CV), grupo criminoso que atua principalmente nas fronteiras do Brasil e no estado do Rio de Janeiro e que facilitou as atividades dos extremistas libaneses no país.
Um segundo caso aconteceu na Espanha, onde dois brasileiros foram presos acusados de propagar o terrorismo e manter vínculos com o Estado Islâmico.
Segundo as investigações das autoridades europeias, com cooperação da polícia brasileira, a dupla fazia propaganda para os jihadistas na internet e divulgava manuais sobre assassinatos em massa, materiais para confecção de explosivos e envenenamento, histórico de atividades terroristas já realizadas e documentos que, para eles, justificavam a prática de ações suicidas.
Além das já conhecidas conexões do Hezbollah com o CV e o Primeiro Comando da Capital (PCC), esses acontecimentos recentes, com menos de 30 dias de diferença, expõem a abrangência da presença de grupos extremistas, principalmente num período em que diversas guerras ocorrem ao redor do mundo, como no Oriente Médio e no leste europeu, e evidenciam que o Brasil está mais vulnerável aos recrutamentos de organizações criminosas, sendo as duas últimas de milícias islâmicas.
Em junho, uma operação da Polícia Civil de São Paulo tinha como objetivo surpreender um encontro entre um suspeito e outro homem que sabiam ser apenas o “químico do Primeiro Comando da Capital (PCC)”, a maior facção criminosa das Américas.
Ao conversar com o provável químico do PCC, o policial da Delegacia de Investigações de Entorpecentes (DISE) se deparou com Garip Uç, um químico turco de 38 anos que solicitou refúgio no Brasil em 2020.
Mais tarde, os policiais descobriram que o homem era um interesse de investigadores da Polícia Federal e da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol).
Garip é irmão de Eray Uç, acusado de participar de uma rede internacional de traficantes de drogas que entregava ao Hezbollah parte de seus lucros para poder atuar no Oriente Médio.
Durante as investigações, os agentes passaram a desconfiar que o químico do PCC preso em São Paulo poderia ser o próprio Eray Uç, que teria usado o documento do irmão para atuar no Brasil.
Eray fugiu da prisão no Paraguai em 2017, de acordo com o jornal O Estado de São Paulo.
Mas o promotor de Justiça do caso, Hélio Junqueira de Carvalho Neto, não encontrou evidências que comprovassem que a polícia havia prendido Eray em vez de Garip.
A investigação então focou em confirmar o que Uç fazia no Brasil.
A presença dele na Praia Grande, litoral paulista, foi possível indício de que o crime organizado estava operando entre o Brasil, a Europa, a África e a Ásia.
Os investigadores passaram a investigar a importação de haxixe.
Um relatório da Diretoria de Investigação Antimáfia (DIA), do Ministério do Interior da Itália, divulgou um relatória que comentou a atuação do PCC.
“O PCC é a maior organização criminosa da área de São Paulo e da tríplice fronteira”, disse o documento.
“E é um importante ator de referência no âmbito do florescente mercado de estupefacientes, também graças às suas relações com o Hezbollah e a ‘Ndrangheta.”
Fontes: Revista Oeste e Gazeta do Povo