Por Henrique Bredda
Quanto mais eu, menos Deus; e quanto menos eu, mais Deus.
O "eu", ou o ego, quando predominante, distancia o ser humano de Deus, consumindo o espaço em nossa alma que poderia ser preenchido pela presença divina.
São João Batista disse: "É necessário que ele cresça e que eu diminua" (João 3:30). Este é o coração do chamado cristão para a humildade. O ego inflado não dá espaço para Deus.
A verdadeira identidade é encontrada não na afirmação do ego, mas na relação com Deus. O "eu" que se afirma independentemente de Deus, cedo ou tarde, cai no desespero, numa existência sem sentido. Sereis como deuses é um conselho da serpente. A autenticidade, portanto, não é a autoafirmação, mas uma entrega e abertura a Deus, permitindo que Sua vontade oriente e defina o propósito de nossa existência.
Assim como Cristo se esvaziou de si para cumprir a vontade do Pai, somos chamados a esvaziar nosso ego para sermos preenchidos por Deus. Este "esvaziamento" não é uma perda de identidade, mas uma transformação dela, onde o ego não é destruído, mas redimido e integrado em uma identidade centrada em Deus.
"Quanto mais eu, menos Deus; e quanto menos eu, mais Deus" não propõe uma anulação do si, mas uma purificação e expansão dele. Não é o desaparecimento do "eu", mas sua realização suprema no encontro com o Criador.
A verdadeira liberdade e o pleno desenvolvimento do ser estão na capacidade de se diminuir para que Deus possa aumentar e agir em nós. Esse é o paradoxo central do crescimento espiritual cristão: na diminuição encontramos nossa maior expansão, na renúncia, a nossa verdadeira liberdade, e na entrega, a nossa plenitude.
A santidade, portanto, é alcançada não através do aumento do nosso eu, mas através de nossa reverência ao Criador, de submissão e integração ao amor e vontade de Deus. Aqui, o verdadeiro significado do ser cristão é realizado: viver não mais para nós mesmos, mas por Aquele que por nós morreu e ressuscitou (2 Coríntios 5:15).
Façamos como São Paulo, quando disse "Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim."
Deve ser por tudo isso que nunca houve, e jamais existirá, um santo que seja egoísta e que não seja humilde.