Por Henrique Bredda
O desejo infinito que reside no coração humano, a vontade de acumular, o anseio profundo que cada pessoa naturalmente tem, de se apropriar, de ter, jamais poderá ser plenamente satisfeito pelas coisas finitas e materiais deste mundo.
O nosso desejo de ter é maior do que a capacidade do mundo em satisfazer. O nosso desejo de infinito só pode ser plenamente preenchido, saciado e satisfeito por Aquele que é Infinito – Deus.
O coração humano é feito para Deus e só em Deus pode encontrar sua plena satisfação. "Como a corça anseia pelas águas correntes, assim minha alma anseia por ti, ó Deus. Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo." (Salmo 42, 1-2)
Mesmo entre os ateus e incrédulos, existe um sede inata da alma humana por Deus, uma sede que as coisas terrenas não podem apagar. Jesus, em seu ministério, afirmou claramente que Ele é a fonte da verdadeira saciedade espiritual: "Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim nunca terá fome, e aquele que crê em mim nunca terá sede." (João 6, 35)
Jesus se apresenta como o único capaz de satisfazer os anseios mais profundos do ser humano. O encontro com Cristo é a resposta ao desejo de infinito.
Os primeiros cristãos, seguindo as instruções dos apóstolos, compreenderam que a plenitude do coração humano só se encontra em Deus. Santo Inácio de Antioquia escreve em sua Carta aos Romanos: "Há em mim uma água viva que murmura e diz dentro de mim: Vem para o Pai." (Carta aos Romanos 7, 2)
A expressão de Inácio evidencia o desejo interior pelo encontro com Deus Pai, um anseio que ressoa no coração de todas as pessoas. Outro testemunho precoce é encontrado em Santo Justino Mártir, que escreve: "Não há nada mais real do que esta realidade: conhecer o Logos, que é Deus." (Diálogo com Trifão 3, 5)
O conhecimento de Deus, o Logos, é a verdadeira realidade que preenche o coração humano.
Os Santos Doutores da Igreja, como Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, aprofundaram a compreensão deste desejo de infinito. Santo Agostinho expressa de forma memorável: "Fizeste-nos para ti, e inquieto está o nosso coração enquanto não repousa em ti." (Confissões I, 1)
Santo Agostinho reconhece que todas as buscas humanas são, em última análise, uma busca por Deus. As coisas finitas não podem satisfazer um desejo infinito. São Tomás de Aquino reforça esta verdade ao afirmar: "A vontade humana não pode encontrar plena satisfação em nenhum bem finito, mas só em Deus, o bem infinito." (Suma Teológica I-II, q. 2, a. 8)
Tomás argumenta que a beatitude perfeita, a plena felicidade, só pode ser encontrada na visão beatífica de Deus, que é o bem infinito.
A busca por Deus e a rejeição das satisfações terrenas são temas recorrentes na espiritualidade cristã. São João da Cruz, um dos grandes místicos da Igreja, descreve este processo em sua obra "Noite Escura da Alma". Ele fala da necessidade de purificação das afeições desordenadas para encontrar a união com Deus: "Para chegar a possuir tudo, não queiras ter coisa alguma. Para chegar a ser tudo, não queiras ser coisa alguma."
Esta purificação é necessária para que a alma possa estar plenamente aberta à ação de Deus e encontrar nEle a verdadeira satisfação.
O coração humano foi realmente criado para Deus e só em Deus pode encontrar sua plena satisfação. As coisas finitas e materiais do mundo não podem preencher o desejo infinito do homem; somente Aquele que é Infinito, Deus, pode saciar completamente nosso anseio mais profundo. Portanto, a busca de Deus deve ser a prioridade máxima na vida de todos, pois somente em Deus encontramos a verdadeira paz e felicidade.
O próprio Cristo nos revela e nos indica Quem pode nos satisfazer. Nesse sentido, a passagem bíblica de Mateus 11:28-30 é uma das mais reconfortantes e amorosas palavras de Jesus Cristo, um convite universal para todos os que estão sobrecarregados e aflitos:
"Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei. Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas. Porque meu jugo é suave e meu peso é leve." (Mateus 11:28-30)
Jesus nos convida a ir até Ele com nossas aflições e fardos. Este chamado é um reflexo do amor incondicional de Deus, que deseja aliviar nosso sofrimento e nos dar paz.
"Vinde a mim" é um apelo pessoal e íntimo. A solução para nossos problemas não está nas coisas do mundo, mas na pessoa de Cristo.
Jesus nos convida a tomar seu jugo, que é suave e leve. Na tradição antiga, o jugo era um símbolo de submissão e obediência à Lei. Jesus redefine o jugo, não como um fardo pesado de regras, mas como uma ligação de amor e graça.
São Francisco de Sales, em sua obra "Introdução à Vida Devota", escreve sobre a alegria de seguir Cristo. "A medida do amor é amar sem medida". Ele explica que a verdadeira devoção a Cristo transforma nossos fardos em alegrias, pois o amor divino torna todas as dificuldades suportáveis.
Jesus descreve seu coração como manso e humilde, oferecendo-nos um modelo a seguir. A mansidão de Cristo não é fraqueza, mas uma força que conquista sem violência. Sua humildade não é submissão, mas uma grandeza que se abaixa para elevar os outros.
Santa Catarina de Sena, em seus "Diálogos", fala sobre a humildade de Cristo como o caminho para a verdadeira exaltação: "A humildade é a mãe da caridade". Para Santa Catarina, seguir a humildade de Cristo nos eleva a uma vida de serviço amoroso aos outros.
Jesus promete descanso para nossas almas, um descanso que transcende o alívio físico e emocional, oferecendo uma paz profunda e duradoura.
O convite de Jesus em Mateus 11:28-30 é um apelo universal para encontrar alívio, paz e verdadeiro descanso em Seu amor e graça. Ao aceitarmos seu jugo suave e seu peso leve, encontramos o repouso para nossas almas que somente Ele pode oferecer.
Em um mundo repleto de aflições e fardos, que possamos ouvir e responder ao convite de Cristo: "Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei." Que possamos tomar Seu jugo sobre nós, aprender com Sua mansidão e humildade, e encontrar o verdadeiro repouso para nossas almas.
Não se preenche aquilo que é infinito com coisas finitas. Só o Amor infinito, em Pessoa, pode saciar o nosso desejo de infinito. Sem Ele, é uma eterna sede.