Por Henrique Bredda
São Tomás de Aquino, ao refletir sobre a natureza humana e a relação do ser humano com Deus e com o mundo, distingue entre os bens materiais e espirituais de forma profunda.
Após um minuciosa análise, se conclui que o único "bem" ou "propriedade privada" que um ser humano possui, que jamais pode ser retirada ou roubada, é o livre-arbítrio. Todo o resto pode ser tomado, roubado, retirado. Inclusive aquela última invenção, que anda na moda, e te disseram que não pode ser tomado...
O livre-arbítrio é essa capacidade inata e inviolável que Deus concede a cada pessoa para escolher entre o bem e o mal, para decidir entre seguir a vontade divina ou afastar-se dela.
Mesmo sob coação, tortura, ou qualquer outra forma de opressão, o livre-arbítrio permanece intacto, pois é um dom espiritual, uma expressão da imagem e semelhança de Deus no homem. Somente o próprio indivíduo pode decidir como usar essa capacidade, escolhendo o caminho que julga melhor.
A liberdade da vontade é essencial para o ato de amar a Deus, para a virtude, e para a salvação. Mesmo Deus, que é onipotente, respeita o livre-arbítrio humano, porque o amor e a virtude só têm valor quando são escolhidos livremente. Parece contraditório, mas até Deus tem seus 'limites'. Deus não pode se aniquilar. Deus não pode forçar alguém a amá-lo.
Portanto, o livre-arbítrio é a mais pessoal, íntima e inviolável propriedade do ser humano, pois é através dele que se define a própria alma, se decide o destino eterno e se participa da vida divina.
Nenhuma casa, ativo, moeda, empresa, contrato ou direito possui o mesmo nível de inviolabilidade que o livre-arbítrio. Com exceção da livre escolha, tudo pode lhe ser retirado.
Portanto, a única propriedade que transcende o material, o tempo e o espaço, sendo parte essencial da dignidade humana, imune a qualquer interferência externa, é a livre escolha.
É através do uso deste bem supremo, o livre-arbítrio, que o ser humano pode alcançar sua verdadeira realização, na união com Deus, ou, infelizmente, na separação d'Ele, dependendo das escolhas que faz.
Todo o resto, todos os outros tipos de 'propriedades', são transitórias, temporárias, retiráveis.