Por Henrique Bredda 

A humanidade pode ser dividida em dois grandes grupos. O primeiro grupo, composto por aqueles que acreditam que possuem o poder de determinar o que é verdadeiro ou falso, real ou fantasioso, conforme seus desejos e crenças.

O segundo grupo, formado por aqueles que se submetem à realidade tal como ela se apresenta, reconhecendo que a verdade está fora deles e deve ser descoberta, e não criada arbitrariamente.

O primeiro grupo representa aqueles que acreditam que a verdade é algo maleável, sujeito aos seus desejos, opiniões e gostos. Esta visão é, em muitos aspectos, a essência do relativismo moderno.

Aqui, a verdade não é uma entidade externa, fixa e objetiva, mas sim uma construção do sujeito. O mundo deve adaptar-se a suas vontades e percepções, e a realidade externa é moldável conforme o que mais convém ao indivíduo.

Aristóteles, em sua "Metafísica", nos adverte contra essa postura. Ele afirma que a verdade está enraizada na adequação entre o intelecto e a realidade: “dizer do que é que não é, ou do que não é que é, é falso; enquanto dizer do que é que é, e do que não é que não é, é verdadeiro.”

A verdade não é uma projeção dos nossos desejos ou ideias sobre o mundo, mas a conformidade do pensamento à realidade objetiva. Quando o ser humano nega essa conformidade, ele se afasta da verdade e adentra o campo da ilusão.

Essa postura está profundamente ligada ao orgulho satânico, onde o homem deseja ser um deusinho de si próprio, um pecado que Santo Agostinho combate em seus escritos, especialmente em suas "Confissões".

Ele mostra como o orgulho é a raiz do pecado original, onde o homem deseja ser como Deus, determinando o que é bom e o que é mau por sua própria autoridade, em vez de submeter-se à ordem divina e à verdade objetiva da criação.

Para Agostinho, o orgulho é a negação da verdade porque busca colocar o eu no centro da realidade, substituindo a verdadeira ordem das coisas pela vontade humana.