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E se o Brasil virar Venezuela?
Comportamento
Publicado em 01/12/2023

Por Henrique Bredda

A capacidade de voltar ao equilíbrio é o verdadeiro Poder Moderador no Brasil que sempre toma as atitudes necessárias para que o país volte à sua normalidade. Nem lá e nem cá, nem Suíça e nem Venezuela, mas sempre Brasil.

E o que é o Brasil? Um lugar enorme, fértil, para onde uma família imigrante vem em busca de vida, fixa residência, acha trabalho, vive e melhora de vida. É assim há 500 anos.

Mas de tempos em tempos, sempre aparece alguém, que se acha mais sábio do que os outros, mas que no fundo está apenas emocionado, que diga que "agora é diferente".

Não, não é diferente.

O Brasil é aquele país único que ao mesmo tempo que "não tem como dar certo", também "não tem como dar errado".

Quando se fala de longo prazo no Brasil, sempre se escuta a pergunta: "E se o Brasil virar Venezuela?"

A pergunta sempre embute um certo pessimismo, endêmico em certos perfis de pessoas, geralmente aquelas que vivem em bolhas elitizadas fingindo serem 'cidadãos novaiorquinos' presos num inferno subdesenvolvido.

Olhando a história do Brasil, no entanto, vemos que nosso DNA possui uma outra vocação, bem diferente do que a pergunta induz.

O Brasil foi o refúgio de uma corte que se esquivou de Napoleão, o qual tomou um drible e teve que ficar 'a ver navios' quando Dom João VI veio com sua família para cá. Aliás, alguma colônia espanhola da América teve o herdeiro da coroa como o mandatário máximo, 'in loco'?

O Brasil é sempre a tábua de salvação de vários povos que procuram vida, comida, casa, trabalho, oportunidade. Imigrantes de vários países, em várias épocas, vieram ao Brasil com a esperança de uma vida melhor.

Alguns fugiam da guerra, outros da fome, e muitos procuravam uma vida melhor. Conseguiram. Italianos, libaneses, alemães, japoneses, judeus, etc, vieram para o Brasil em busca de vida. Hoje recebemos haitianos, venezuelanos, latino-americanos e, muito em breve, outros refugiados.

A história mostra que quando países entram (temporariamente ou não) em processos de "venezuelização", é o Brasil que acolhe seus imigrantes.

O Brasil não vira Venezuela. São os outros que passam por esse terror e somos nós que acolhemos.

Para os eternos pessimistas, recorro ao genial Mário Ferreira dos Santos (foto):

"É comum, entre literatos da nossa época, tripudiar sobre as dores humanas, remexer feridas em vez de cauterizá-las. Há quem busque angústias quando não as têm, numa morbidez afanosa de sofrimentos, mais falsos que verdadeiros, para depois criar, com gritos de dor, obras nem sempre autênticas. Há quem diga até que o otimismo é uma atitude de filosofia barata. Mas há algo mais barato que o pessimismo? Olhem para o mundo. Quantos os que se queixam, quantos os que se angustiam, açulados pela imaginação doentia; quantos proclamam angústias (as famosas angústias físicas e metafísicas de tantos intelectuais!). Quantos procuram mágoas para explorá-las? Há coisa mais barata por este mundo?"

De fato, não nada mais barato nesse mundo do que um pessimista. Ele até parece inteligente, mas dado que os pessimistas se abundam como as areias de nossas praias, desconfio que pessimismo não seja sinal de inteligência.

O Brasil não vira Venezuela. Pelo contrário. Somos nós que acolhemos povos que fogem de suas 'Venezuelas'.

Não somos perfeitos, mas aqui sempre se encontrou possibilidade de vida. Essa é a nossa vocação.

Essa nossa especialidade, essa nossa capacidade de acolhimento e absorção cultural é sem precedentes no mundo. Talvez se compare, no máximo, ao Império Romano.

Veja que curioso:

Quem é de São Paulo, é paulistano. Quem é dos EUA, é americano. Quem é da Itália, é italiano. Quem é da elite da guarda romana, é pretoriano. E por aí vai: equatoriano, peruano, boliviano, goiano, anglicano, australiano, lituano, jordano, iraquiano, iraniano, queniano, indiano, etc. Em essência, a terminação '-ano' significa pertencimento.

Por outro lado, a terminação '-eiro' significa profissão: engenheiro, padeiro, porteiro, carteiro, carpinteiro, jardineiro, leiteiro, açougueiro, pedreiro, cabeleireiro, coveiro, goleiro, caseiro, jornaleiro, borracheiro, verdureiro, fuzileiro, cozinheiro, etc.

Enquanto "-ano" basta apenas ser, "-eiro" requer dedicação, esforço, talento e conquista.

"Brasiliano" era o termo utilizado, no século 16, como referência aos índios locais aqui do Brasil; já os portugueses, recém-chegados preferiam se autodenominarem "brasileiros".

Eles se diziam brasileiros pois a atividade de trabalhar, criar riqueza e organizar essa terra bruta aqui no Brasil era coisa de profissional.

Normalmente quando ouvimos a frase que diz que "o Brasil não é para amador" ela geralmente se encontra num contexto pejorativo, quase sempre dita por alguém que está frustrado ou perdendo em alguma situação por aqui no Brasil.

A conclusão de quem repete essa expressão é que a única solução é se mudar do país porque "aqui não tem solução". No entanto, essa frase possui uma continuidade lógica que passa despercebida: se o Brasil "não é para amador", logo ele é para profissional.

Se não for profissional, não aguenta a lidar com o Brasil.

Ou seja, 'brasileiro' é a única nacionalidade do mundo que também é em si uma profissão.

O Brasil realmente não é adequado para amador, é para profissional. Se uma pessoa conseguir compreender essa realidade, muda tudo.

Ser brasileiro é uma profissão.

Ser brasileiro é herdar a Ilíada, a Odisséia, a Eneida, a Divina Comédia e Os Lusíadas.

Ser brasileiro é acolher qualquer imigrante do mundo e incorporá-lo em nossa cultura.

Chegou no Brasil, não importa a raça, a religião, a origem, basta vestir a amarelinha, falar mal do governo, pagar um iptu, tomar uma gelada ou fazer uma romaria para Aparecida que já é dos nossos. Nenhum país tem isso. Darcy Ribeiro (de "O Povo Brasileiro") dizia que "O brasileiro não é somente um feriado de sua miscigenação, mas a prova viva de sua capacidade de criar uma nova civilização, mesclando culturas tão diversas."

Nenhum país do mundo conseguiria receber 100 mil refugiados de guerra, seja eles ucranianos, africanos, judeus ou palestinos, sem mudar um milímetro a sua cultura, e sem que isso seja causa de qualquer ato de violência. Só o Brasil. Os outros não sabem lidar com isso.

De fato, o Brasil não é para amadores.

O Brasil foi feito por profissionais.

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