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O fim do mistério - O reino da superficialidade
Comportamento
Publicado em 18/12/2023

Por Rodrigo Oliveira*

O império da exposição tem diluído a contemplação e a vida interior.

Aquele tempo do Mistério, da ocultação, do Deus que não se revela plenamente, do Filho que prega a esperança, do Espírito Santo que sopra onde e quando quer, não faz mais sentido e nem tem por que existir dentro da realidade atual.

O deus de agora exige a negação do Mistério. A Exposição é o seu único mandamento.

Temos, assim, de tornar tudo público, claro e distinto: a sexualidade, a maternidade, a paternidade, a profissão, a felicidade, a viagem.

Para cada necessidade dos desejos de publicizar a sua privacidade.

Quer vender seu corpo? Quer tornar sua família um produto? Quer expor seus desejos mais íntimos?

Existe um aplicativo para cada uma dessas dimensões.

As imagens recriadas pela memória são desprezadas.

O passado, reproduzido com precisão matemática e em alta resolução, deve estar disponível em algum HD ou nuvem.

A lembrança de um tempo que se perdeu e os devaneios contemplativos provenientes dessa atividade imaginativa não têm mais razão de ser.

O deleite de recriar as situações, de ter diante de si uma cena que não pode ser traduzidas em imagens e palavras, um gesto qualquer do filho, da esposa, do pai, que marcou uma determinada experiência, são situações cada vez mais incompreensíveis para o homem pós-moderno.

Estamos viciados em ver imagens – imagens que passam nas telas dos nossos celulares e que nos oferecem um prazer imediato e se desfazem como fogos de artifício.

Um Deus que exige perseverança – paciência, espera, fé, fortaleza – não existe mais para a vida que se configura atualmente.

*Rorigo Oliveira: Mestre em filosofia
Doutor em Ciências da Religião.

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