Por Roberto Motta/Revista Oeste
O telefone toca. Atendo. Do outro lado da linha, uma voz de mulher, doce e feminina, diz: ‘Alô?’. Quando eu respondo, a voz feminina some. No lugar dela entra um homem.
Ele está falando de um lugar tão barulhento que mal consigo escutar o que ele diz. Ele está em um call center, um ambiente onde centenas de pessoas gritam ao mesmo tempo. O inferno deve ser um descanso para quem trabalha em um lugar assim.
O homem me informa que trabalha na empresa XYZ (não consigo entender o nome) e que está a serviço de uma operadora telefônica. Ele pede para falar com meu pai. Respiro fundo.
Recebo várias ligações como essa todos os dias. Reúno a paciência que me resta e respondo: ‘Meu pai morreu há mais de dez anos. Já expliquei isso. Vocês continuam ligando. Por caridade, parem de ligar’.
Eu digo isso, mas sei que é inútil. Ligarão outras vezes. A insistência é o ponto forte dos call centers. As ligações são controladas por um sistema. O sistema não se importa com o que eu digo.
O sistema determinou que é preciso falar com meu pai. O fato de o meu pai ter morrido é irrelevante. O fato de eu informar isso é irrelevante.